O Custo Brasil no preço do produto industrializado nacional resulta da comparação da produção de uma empresa com as características operacionais brasileiras operando no ambiente econômico do Brasil, em relação a mesma empresa operando com os indicadores médios do ambiente econômico dos 15 países que respondem por 76% da pauta de importados de bens industriais do país. São eles: Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, China, Coreia do Sul, Espanha, EUA, França, Índia, Itália, Japão, México, Reino Unido e Suíça (chamaremos de países parceiros).
O que diferencia esses países do Brasil
Tributação
O Brasil tem carga tributária maior que dos 12 países parceiros, os quais respondem por 62% da pauta de produtos industrializados importados. A carga tributária nacional fica acima da média ponderada dos países parceiros.
O País é o líder em tributos diretos, com a maior tributação sobre os lucros das empresas dentre os países parceiros. No Brasil essa tributação e de 34% do lucro e na média dos países parceiros de 26,9%. Somos o terceiro dentre os países parceiros que mais tributam salários: 36,8% em média no Brasil, ante 21,4% da média desses países.
Temos a maior burocracia tributária do mundo – estima-se que as empresas dispendem 0,72% do faturamento para vencer tal burocracia. Inclusive o tempo para preparar e pagar tributos é 11,3% vezes maior que os dos outros países, em média.
A tributação representa 13% do custo Brasil aproximadamente.
Juros sobre capital de giro
Juros reais brasileiros 4,2% acima dos países parceiros (período 2008 a 2019). No Brasil, média 2011 a 2018, os spreads bancários superam os países parceiros em 10,2 vezes. É caro financiar capital de giro no Brasil.
Energia e matérias-primas
Apesar da dotação de recursos naturais do Brasil, em muitos insumos os preços são maiores que em outros países.
Infraestrutura e logística
O International Institute for Management Development (IMD) deu a pior nota ao Brasil em estudo com foco no período 2008 a 2016. Há deficiências na infraestrutura logística (rodovias, ferrovias, portos, dentre outros) que reduzem a competitividade do produto nacional em comparação com os países parceiros.
Carga extra com benefícios sobre a folha de pagamento
Apesar da elevada carga tributária, diversos serviços públicos tem oferta insuficiente ou com qualidade inferior a adequada. Assim, muitas empresas suprem com recursos próprios alguns serviços, como saúde, previdência, assistência, dentre outros.
Estima-se impacto de 0,8% do faturamento das empresas com essa carga extra de benefícios.
Outros Serviços Demandados pela Indústria
Aluguéis, arrendamentos, serviços de terceiros e assessorias possuem preços mais elevados no Brasil que em outros países. Estima-se que esses preços mais elevados encarecem os preços finais em 0,8% (base 2019).
A conclusão é que o Custo Brasil encarece o preço final do produto brasileiro em relação aos países parceiros, considerando as características operacionais brasileiras comparativamente aos outros países. E o patamar de encarecimento oscila entre 17% e 23,3% segundo o Ministério da Economia, FIESP e Abimaq (informações de 2018 e 2019).
Comparação de preços do produto nacional e do importado no mercado doméstico
Numa análise da situação atual, importante destacar o câmbio está desvalorizado, situação que incentiva as exportações e inibe as importações. Assim, o mercado está aquecido para a exportação, propiciando que as empresas incrementem suas vendas ao mercado externo ou mesmo ingressem nesse mercado (no caso de empresas que não possuem ainda o perfil exportador).
Por outro lado, quando o câmbio está valorizado desestimula as exportações e incentiva as importações, pois torna o produto importado mais barato. A Indústria de Transformação é a principal afetada por esse mecanismo, pois produz produtos comercializáveis internacionalmente e a redução dos preços de importação via valorização cambial reduz expressivamente as possibilidades de competição nacional.
Historicamente, segundo pesquisa da FIESP, o câmbio nacional apresenta oscilações entre períodos com maior valorização cambial e períodos com maior desvalorização cambial. No entanto outros países exportadores, como China, Argentina, Coreia e México mantiveram por maior período (entre 2008 e 2019) suas moedas desvalorizadas.
No período 2008 a 2019, o Brasil apresentou a segunda maior volatilidade cambial e teve a moeda mais valorizada no período, comparativamente a Argentina, Países da a zona do Euro, Chile, México, Coréia e China.
No preço final dos produtos, após adicionar os seis componentes do custo Brasil, são acrescentados ainda o desalinhamento cambial e os tributos sobre vendas, cabendo considerar que a valorização cambial reduz o preço do produto importado. Por sua vez, ao preço do produto importado agrega-se a média ponderada de 9,9% do imposto de importação para produtos industriais originário dos países parceiros.
Assim, em média, no período 2008 a 2019, o preço final do produto industrializado nacional ficou expressivos 25,8% acima do preço final do produto importado, diferença essa resultante do custo brasil e do desalinhamento cambial.
Efeitos do Custo Brasil
Os efeitos do Custo Brasil levam a desindustrialização. A indústria de transformação nacional, que já teve 21,8% de participação no PIB brasileiro em 1985, passou a ter participação de 11,3% em 2021, similar a participação verificada no ano de 1952.
Importante frisar que a queda da participação da indústria de transformação no PIB nacional acompanhou a valorização cambial verificada no período.
Assim, o Brasil acumula déficits no comércio externo de produtos industrializados. E há perda de participação e representatividade no mercado externo, com redução das exportações, de 82% da pauta para 53% no período 2001 a 2021.
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
Como ameaças, temos
- Baixo crescimento da economia.
- Aumento de Gastos → descontrole fiscal → aumento da Inflação → aumento dos juros
- Aumento de tributos para equilibrar contas públicas.
- Doença Holandesa (avanço da exportação de recursos naturais e o declínio do setor manufatureiro)
Como oportunidades:
- Reformas: por exemplo, a Reforma Tributária → IVA → elimina tributos irrecuperáveis e reduz gastos com burocracia.
- Revalorização das políticas industriais
- Readensamento das Cadeias Produtivas, especialmente as críticas
- Indústria 4.0
- Recursos Naturais: agregação de valor nos recursos naturais da Agropecuária (alimentos, proteína animal, biocombustíveis) e Indústria extrativa (petróleo, terras raras, minério de ferro, entre outros)
Como Reduzir o Custo Brasil
Uma simulação indica que é possível reduzir o Custo Brasil em pelo menos 52%, mas isso passa por:
- Reforma tributária, sem necessariamente alterar a carga tributária, mas através do IVA eliminando o custo Brasil com tributos irrecuperáveis e eliminando o diferencial de Burocracia para pagar tributos.
- Juros – redução significativa dos juros sobre o capital de giro.
- Redução do custo com Matérias-primas e energia, via redução do custo com tributação e juros sobre o capital de giro.
*Fonte: Custo Brasil na Indústria de Participação – FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Departamento de Competitividade e Tecnologia – Julho de 2022.
**Contribuiu: Rogério Tolfo, economista consultor do Sindmóveis e da Movergs