Obra de Bez Batti no novo Centro Empresarial de Bento Gonçalves celebra vitória do imigrante

24/11/2017

São dois blocos de basalto que, somados, dão a dimensão de um homem – o homem italiano que na esperança de construir um novo mundo, veio, viu e venceu na distante América. Mas foi uma vitória forjada no sacrifício, o mesmo que o escultor João Bez Batti emprega em cada feição que faz brotar da rocha bruta encontrada na região. Por isso, a obra que vai ficar no átrio principal do Centro Empresarial que abriga a nova sede do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis) e da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do RS (Movergs) recebeu o sugestivo nome de “Vitória”. “Nessa escultura, era necessário representar a luta, a força e a coragem desse povo que aqui chegou cheio de esperança e, com muito trabalho, conseguiu essa grandeza que hoje as entidades representam”, comenta o artista.

“Vitória” é um trabalho simbólico de Bez Batti. Inicialmente porque trata-se, inexplicavelmente, de sua primeira obra pública na cidade. Depois, porque o próprio enxerga-se em “Vitória”. Filho de pai italiano, Bez Batti chegou a Bento Gonçalves em 1969, num gesto que repete seus ancestrais, a busca por novos horizontes. “Nós (ele e a mulher, Maria Shirley) fizemos parte dessa história. Chegamos desconhecidos e com muita vontade, aqui encontrei meu basalto da infância onde me criei (interior de Venâncio Aires), na margem do rio. Eu só sou escultor porque vim a Bento”, lembra. “Minha história é a história de Bento, aqui tudo deu certo”, compara.

A obra é composta de duas peças que, juntas, somam 1,70m de altura e mais de uma tonelada. No “corpo”, um grande bloco de 900kg em forma de coluna quadrada de 1,20mx0,50m, Bez Batti simbolizou a força e a união do imigrante por meio de dois traços cujas pontas se encaixam. Na cabeça, a figura de um homem dominando a natureza – assim como ele dominou as pedras. “Não podia ser um rosto comum, tinha que ser uma cabeça quase que insinuando dois rostos, saltando de dentro da pedra, um olhar distante, com um nariz forte”, explica.

A encomenda feita pelas três entidades, confessa o artista, lhe tirou o sono. O prazo exíguo, de 40 dias, fez com que ele não dormisse no dia em que recebeu o pedido – ele costuma fazer maquetes antes de atacar a pedra, mas neste caso fez o rascunho num pequeno pedaço de gesso, à ponta de faca. “Estava diante de uma responsabilidade muito grande, mas a vontade de fazê-la era maior e superei o medo”, conta Bez Batti, com a simplicidade que só os grandes artistas têm. Prestes a completar 77 anos, um dos maiores escultores brasileiros contempla sua mais nova obra, por ora instalada em seu jardim de pedra em São Pedro, sem saber como será a reação do público, mas com a certeza do que ela representa: “essa escultura é a nossa história”.